sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Divã - Martha Medeiros


Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é imperdoável. Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa. 

Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide. 

Amor é quando você não compreende direito algumas coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de Sócrates, Plutão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com um coração tão grande, não consigo fazê-la perceber que ela seria a pessoa mais feliz do mundo ao meu lado? 

Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama, depois passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa e passam-se décadas, e você já nem lembra mais do passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se olha no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar a mim mesmo durante todo esse tempo? 

Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o cadarço de um tênis com uma única mão ou de fazer a chuva parar só com a força do pensamento caso a pessoa que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho. 

Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você acreditava em milagres. 

Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até esquece que também é amor.
Martha Medeiros

Divã - Martha Medeiros

domingo, 23 de outubro de 2011




O amor não acaba, nós é que mudamos



( TEXTOS DE MARTHA MEDEIROS e OUTROS)




Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?


O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades. O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos. O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos.


Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda. Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.


O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

segunda-feira, 20 de junho de 2011





"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. 
Eu não: quero uma verdade inventada." 
(Clarice Lispector)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Porto Nacional  12/06/2011


"É bom ficarmos sozinhos de vez em quando para refletir em silêncio, para descobrir quem somos... 
Esse isolamento, no entanto, é apenas uma pausa para olharmos ao nosso redor, em busca do Amor ... 
O isolamento não é solidão, mas um momento para estarmos conosco, em paz e harmonia.
É uma busca interior, um movimento voluntário, uma virtude a ser desenvolvida que nos ajudará depois a encontrar melhor os olhos e o coração dos outros...


(R. Shinyashiki)

domingo, 29 de maio de 2011


“A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. 
Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. 
As coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. 
Mas a gente nunca tira tudo. 
Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. 
A gente sabe. 
Que tá curta, pequeno, apertado. 
É que a gente queria tanto.
 Tanto.
Acredito que arrumar a bagunça da vida é como arrumar a bagunça do quarto. 
Tirar tudo, rever roupas e sapatos, experimentar e ver o que ainda serve, jogar fora algumas coisas, outras separar para doação.
Isso pode servir melhor para outra pessoa. 
Hora de deixar ir. 
Alguém precisa mais do que você.
Se livrar. 
Deixar pra trás. 
Algumas coisas não servem mais. 
Você sabe. 
Chega. 
Porque guardar roupa velha dentro da gaveta é como ocupar o coração com alguém que não lhe serve. 
Perca de espaço, tempo, paciência e sentimento.
Tem tanta gente interessante por aí querendo entrar. 
Deixa. Deixa entrar: na vida, no coração, na cabeça.” 







(Caio Fernando Abreu)








segunda-feira, 9 de maio de 2011

Filho do Céu - Padre Fábio de Melo: Uma semana perfeitinha pra vocês!

" Aprendi com o Mestre dos Mestres que a arte de pensar é o tesouro dos sábios. Aprendi um pouco mais a pensar antes de reagir, a expor - e não impor - minhas idéias e a entender que cada pessoa é um ser único no palco da existência.

Aprendi com o Mestre da Sensibilidade a navegar nas águas da emoção, a não ter medo da dor, a procurar um profundo significado para a vida e a perceber que nas coisas mais simples e anônimas se escondem os segredos da felicidade.

Aprendi com o Mestre da Vida que viver é uma experiência única, belíssima, mas brevíssima. E, por saber que a vida passa tão rápido, sinto necessidade de compreender minhas limitações e aproveitar cada lágrima, sorriso, sucesso e fracasso como uma oportunidade preciosa de crescer.


Aprendi com o Mestre do Amor que a vida sem amor é um livro sem letras, uma primavera sem flores, uma pintura sem cores. Aprendi que o amor acalma a emoção, tranquiliza o pensamento, incendeia a motivação, rompe obstáculos intransponíveis e faz da vida uma agradável aventura, sem tédio, angústia ou solidão. Por tudo isso Jesus Cristo se tornou, para mim, um Mestre Inesquecível"

Augusto Cury

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Fizeram a gente acreditar - Martha Medeiros



Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30. 
Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.
Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. 
Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que falta: a gente cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável.
Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada “dois a um”,duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava. 
Não nos contaram que isso tem nome: anulação, que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora dele deveriam ser reprimidos.
Fizeram a gente acreditar que os bonitos e mágicos são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. 
Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.
Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, e para todo, e os que escaparam dela estão condenados à marginalidade. 
Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.
Ah também não nos contaram que ninguém vai contar tudo isso para a gente. 
Cada um vai ter que descobrir sozinho. 
E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém.



quarta-feira, 13 de abril de 2011

Feliz dia do beijo!!!!

No dia 13 de abril é comemorado o Dia do Beijo. É difícil saber, ao certo, o que motivou a criação da data comemorativa, mas diz a história - verdadeira ou não - que o italiano Enrique Porchelo beijava todas as mulheres que encontrava na vila em que vivia, casadas ou não. Em 13 de abril de 1882, o padre local teria oferecido um prêmio em moedas de ouro às mulheres que não haviam sido beijadas pelo "Don Juan". Conta a lenda que nenhuma apareceu e que o tesouro está escondido em algum lugar da Itália até hoje.
A verdade é que é difícil não querer dar um beijinho em quem se ama, não é? Em muitas vezes, nem precisa ser amor, atração já basta para tirar o fôlego. Também pudera, de acordo com o "Dossiê do Beijo, livro de Pedro Paulo Carneiro, existem 484 formas diferentes de beijar.

"O beijo é uma arma poderosa de sedução e pode ser considerado o termômetro do relacionamento", afirma Cláudya Toledo, terapeuta sexual e presidente da agência de relacionamentos A2Encontros. "Os relacionamentos normalmente começam com um beijo e o casal precisa dele para manter seu entrosamento, já que ele tem o poder de misturar a essência das pessoas através da boca, da respiração", acrescenta.
Ela diz ainda que muitos casais de longa data têm relação sexual sem beijo na boca, o que indicaria que a relação estacionou ou esfriou. "Variar o beijo, criar e namorar beijando é um sinal que o relacionamento está vivo", explica. Ótimo estímulo para investir no seu lado beijoqueiro, não? Confira curiosidades sobre o beijo:

- 29 músculos são ativados em um beijo apaixonados;
- O corpo se aquece, queimando até 15 calorias e a pressão arterial sobe;
- Uma pessoa troca, em média, 24 mil beijos (de todos os tipos, dos maternais aos apaixonados e, até mesmo, os roubados) ao longo da vida;
- Beijar acalma! O nível de serotonina no cérebro aumenta quando estamos beijando;
- Pesquisadores americanos afirmam que a saliva trocada em um beijo apaixonado facilita a digestão e tem efeitos benéficos sobre as defesas do organismo

E não é só isso! Segundo Cláudya, o beijo pode ativar o funcionamento de nossa saúde orgânica, biológica e energética. No livro "Eles são simples, Elas são complexas", da editora Alaúde, ela lista as sete saúdes do ser humano - física, sexual, financeira, emocional, social, mental e espiritual - e os sete beijos correspondentes a cada uma delas. 
kkkkk... Então tá, né??? kkk

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Deus te abençoe por perder as ilusões

Deus te abençoe por perder as ilusões


Como é bom quando perdemos as ilusões, quebramos a cara e tomamos um belo tabefe da vida, não é? Dependendo dos entulhos que juntamos em nossas mentes, parece até que levar um gancho de direita da vida nos faz voltar a realidade com tanta, mas tanta violência, que ficamos até meio grogues, sem saber onde estamos ou quem somos!
Sim, é muito bom quando isso acontece, porque percebemos que a vida é totalmente diferente das fantasias que alimentávamos. Aquele homem que parecia maravilhoso deixa cair a máscara, você descobre que não é tão maravilhosa quanto imaginava, enfim, as coisas começam a se mostrar como realmente são! Sim, minha filha é como se uma chuva milagrosa estivesse removendo uma camada que escondia tudo! Aleluia!!!
Você vai chorar, vai encher o tacho de Cinzano para curtir uma fossa, mas quando passar será como uma libertação: "Meu Deus, finalmente o Senhor me fez abrir os olhos!"
E nem adianta se esconder porque a realidade, a grande inimiga das ilusões, irá buscá-la onde quer que esteja escondida. Sim, mais cedo ou mais tarde a realidade vai te pegar, isto é um fato. E pode apostar todas as suas fichas que ela vai te puxar pelos pés e gritar na sua orelha:
"ACORDA, CRIATURA!!! O MUNDO NÃO É UM FAZ-DE-CONTA!!!"
Minha filha, esqueça todas as frases poéticas, porque ilusão é o vício da mentira. É como se fosse uma droga, um ópio que nos atordoa e nos deixa presos em um mundo irreal.
QUANTO MAIS TEMPO FICAR ILUDIDA, MAIORES SERÃO OS EFEITOS DAS DECEPÇÕES.
Afinal, quantas vezes você jurou de pés juntos que nunca mais iria se iludir?
Por exemplo:num belo dia, depois de passar um século se humilhando por causa de um homem, jurando de pés juntos que ele te amava, eis que acabou levando um belo chute no rabo!! Então, você chorou e se acabou no drama, quando deveria agradecer por, finalmente, se ver livre desta sua escravidão emocional. E é lógico que depois de sofrer, você resolveu dar uma de fodona, e até jurou que nunca mais se rebaixaria por macho algum. Nossa, quem vê até acredita, né?
Parece loucura, mas quando a ilusão vira uma dependência, o resultado é tão nefasto que muitas pessoas adoram se meter em enrascadas, só pelo prazer da desilusão. Claro, são dois vícios que se complementam: o prazer de viver nas nuvens e a dor de cair e se esborrachar no chão, afundar na lama!
Por isso que você só fica na promessa, porque entre o real e o imaginário, acaba cometendo os mesmos erros, arrumando outros trastes, muitas vezes piores que aquele que se mandou. E olha você de novo se fazendo de cega, levando porradas e ainda se iludindo: "Ele me ama! Um dia ele vai largar a esposa e vai se casar comigo!!"
E o pior é que você sempre agiu assim para não sofrer, não é um absurdo?
Toda pessoa que vive de ilusão não passa de uma grande mentirosa. Só que a maior vítima de suas mentiras é exatamente ela. Sim, porque mentem para si mesmas, muitas vezes querendo crer que tudo está bem, quando na verdade tudo não passam de ruínas... Sim, tem muita pessoas fudidas na vida, que fingem uma felicidade que não existe, procurando na mentira um refúgio que as mantenham longe do mundo real.
"Eu não tenho onde morar, o que eu ganho por dia não paga nem o meu almoço, mas eu sou tão feliz!!!
Quantas vezes não nos imaginamos muito especiais, verdadeiras maravilhas da natureza, "fodas pra caralho", mas acabamos quebrando a cara quando descobrimos que somos apenas de carne e osso? E aqui entre nós: saber que Papai do Céu não vai fazer absolutamente nada para nos tirar da merda é uma das maiores desilusões, não é mesmo?
Então, minha filha, levanta as mãos para o Céu e agradece por cair do pedestal, porque de agora em diante você vai ter que escolher entre lutar ou ser engolida
Oras, Deus não é office-boy!!! Ele não fará nada se você não der o primeiro passo. E como é duro dar o primeiro passo quando perdemos as ilusões...Só para lamber as feridas levamos uma eternidade.
A FÉ SEM AÇÃO É INÚTIL!!!
Você pode ser a lindinha do papai e o tesãozinho do benzão, mas para o Universo é apenas mais uma. E pode levar um século para conseguir se recuperar deste golpe. E pode até mesmo passar o resto da vida sem aceitar esta desilusão, mas nada no mundo irá mudar a realidade de que sem ação, sem atitudes, nada do que achar a seu respeito irá mudar.
Entenda uma coisa: o mundo reage de acordo com o que fazemos, não pelo o que acreditamos.
ILUDIR-SE É VER A FANTASIA, É DESEJAR O FALSO....
Por isso que muita gente acha que empurrando seus problemas com a barriga ou fingindo que não existem, eles podem sumir. E é exatamente esse o grande mal da ilusão: acreditar que podemos viver de esperanças. Esperanças de que aquele amor seja verdadeiro, esperanças de que um grande emprego caia do Céu, esperanças de que nunca tenhamos que sofrer...
ILUSÃO É A MAIS INÚTIL TENTATIVA DE TORNAR ALGO IRREAL EM REALIDADE.
No final, a maior desilusão será descobrir que a realidade tornou-se dura demais para fugir.
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terça-feira, 5 de abril de 2011

Talvez o último desejo- Rachel de Queiroz



Pergunta-me com muita seriedade uma moça jornalista qual é o meu maior desejo para o ano de 1950. E a resposta natural é dizer-lhe que desejo muita paz, prosperidade pública e particular para todos, saúde e dinheiro aqui em casa. Que mais há para dizer? 

Mas a verdade, a verdade verdadeira que eu falar não posso, aquilo que representa o real desejo do meu coração, seria abrir os braços para o mundo, olhar para ele bem de frente e lhe dizer na cara: Te dana! Sim, te dana, mundo velho. Ao planeta com todos os seus homens e bichos, ao continente, ao país, ao Estado, à cidade, à população, aos parentes, amigos e conhecidos: danem-se! Danem-se que eu não ligo, vou pra longe me esquecer de tudo, vou a Pasárgada ou a qualquer outro lugar, vou-me embora, mudo de nome e paradeiro, quero ver quem é que me acha.

Isso que eu queria. Chegar junto do homem que eu amo e dizer para ele: Te dana, meu bem! Dora em vante pode fazer o que entender, pode ir, pode voltar, pode pagar dançarinas, pode fazer serenatas, rolar de borco pelas calçadas, pode jogar futebol, entrar na linha de Quimbanda, pode amar e desamar, pode tudo, que eu não ligo!

Chegar junto ao respeitável público e comunicar-lhe: Danai-vos, respeitável público. Acabou-se a adulação, não me importo mais com as vossas reações, do que gostais e do que não gostais; nutro a maior indiferença pelos vossos apupos e os vossos aplausos e sou incapaz de estirar um dedo para acariciar os vossos sentimentos. Ide baixar noutro centro, respeitável público, e não amoleis o escriba que de vós se libertou!

Chegar junto da pátria e dizer o mesmo: o doce, o suavíssimo, o libérrimo te dana. Que me importo contigo, pátria? Que cresças ou aumentes, que sofras de inundação ou de seca, que vendas café ou compres ervilhas de lata, que simules eleições ou engulas golpes? Elege quem tu quiseres, o voto é teu, o lombo é teu. Queres de novo a espora e o chicote do peão gordo que se fez teu ginete? Ou queres o manhoso mineiro ou o paulista de olho fundo? Escolhe à vontade - que me importa o comandante se o navio não é meu? A casa é tua, serve-te, pátria, que pátria não tenho mais.

Dizer te dana ao dinheiro, ao bom nome, ao respeito, à amizade e ao amor. Desprezar parentela, irmãos, tios, primos e cunhados, desprezar o sangue e os laços afins, me sentir como filho de oco de pau, sem compromissos nem afetos.

Me deitar numa rede branca armada debaixo da jaqueira, ficar balançando devagar para espantar o calor, roer castanha de caju confeitada sem receio de engordar, e ouvir na vitrolinha portátil todos os discos de Noel Rosa, com Araci e Marília Batista. Depois abrir sobre o rosto o último romance policial de Agatha Christie e dormir docemente ao mormaço.



Mas não faço. Queria tanto, mas não faço. O inquieto coração que ama e se assusta e se acha responsável pelo céu e pela terra, o insolente coração não deixa. De que serve, pois, aspirar à liberdade? O miserável coração nasceu cativo e só no cativeiro pode viver. O que ele deseja é mesmo servidão e intranqüilidade: quer reverenciar, quer ajudar, quer vigiar, quer se romper todo. Tem que espreitar os desejos do amado, e lhe fazer as quatro vontades, e atormentá-lo com cuidados e bendizer os seus caprichos; e dessa submissão e cegueira tira a sua única felicidade.

Tem que cuidar do mundo e vigiar o mundo, e gritar os seus brados de alarme que ninguém escuta e chorar com antecedência as desgraças previsíveis e carpir junto com os demais as desgraças acontecidas; não que o mundo lhe agradeça nem saiba sequer que esse estúpido coração existe. Mas essa é a outra servidão do amor em que ele se compraz - o misterioso sentimento de fraternidade que não acha nenhuma China demasiado longe, nenhum negro demasiado negro, nenhum ente demasiado estranho para o seu lado sentir e gemer e se saber seu irmão.

E tem o pai morto e a mãe viva, tão poderosos ambos, cada um na sua solidão estranha, tão longe dos nossos braços.

E tem a pátria que é coisa que ninguém explica, e tem o Ceará, valha-me Nossa Senhora, tem o velho pedaço de chão sertanejo que é meu, pois meu pai o deixou para mim como o seu pai já lho deixara e várias gerações antes de nós, passaram assim de pai a filho.

E tem a casa feita pela nossa mão, toda caiada de branco e com janelas azuis, tem os cachorros e as roseiras.

E tem o sangue que é mais grosso que a água e ata laços que ninguém desata, e não adianta pensar nem dizer que o sangue não importa, porque importa mesmo. E tem os amigos que são os irmãos adotivos, tão amados uns quanto os outros.

E tem o respeitável público que há vinte anos nos atura e lê, e em geral entende e aceita, e escreve e pede providências e colabora no que pode. E tem que se ganhar o dinheiro, e tem que se pagar imposto para possuir a terra e a casa e os bichos e as plantas; e tem que se cumprir os horários, e aceitar o trabalho, e cuidar da comida e da cama. E há que se ter medo dos soldados, e respeito pela autoridade, e paciência em dia de eleição. Há que ter coragem para continuar vivendo, tem que se pensar no dia de amanhã, embora uma coisa obscura nos diga teimosamente lá dentro que o dia de amanhã, se a gente o deixasse em paz, se cuidaria sozinho, tal como o de ontem se cuidou.

E assim, em vez da bela liberdade, da solidão e da música, a triste alma tem mesmo é que se debater nos cuidados, vigiar e amar, e acompanhar medrosa e impotente a loucura geral, o suicídio geral. E adular o público e os amigos e mentir sempre que for preciso e jamais se dedicar a si própria e aos seus desejos secretos.

Prisão de sete portas, cada uma com sete fechaduras, trancadas com sete chaves, por que lutar contra as tuas grades?

O único desabafo é descobrir o mísero coração dentro do peito, sacudi-lo um pouco e botar na boca toda a amargura do cativeiro sem remédio, antes de o apostrofar: Te dana, coração, te dana!



Rachel de Queiroz, em "Um alpendre, uma rede, um açude". Rio de Janeiro: José Olímpio







sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Contando histórias

Contando histórias

Pensar é transgredir

Lya Luft
Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos, para não morrermos soterrados na poesia da banalidade, embora pareça que ainda estamos vivos. Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo. Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência : isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui. Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante : "Parar pra pensar, nem pensar !"
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador. Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação.
Sem ter programado, a gente pára pra pensar. Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas. Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar : reavaliar-se .
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto. Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas. Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar. Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo. Se nos escondemos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos. Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se : a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada. Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: "escrever a respeito das coisas é fácil", já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado. Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança. Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for. E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.